sábado, 29 de janeiro de 2011

A rever: O preço da traição

O Preço da Traição, apesar do elenco e realizador conhecidos estreou no nosso país sem grande alarido. Esta situação é injusta pois o filme apesar de nem sempre manter a coerência apresenta uma história bastante intrigante, sustentada pela sensibilidade da realização de Atom Egoyan e fortes interpretações das protagonistas femininas.

O filme conta a história de Catherine, protagonizada por uma excelente Julianne Moore, que perante as suspeitas de que o seu marido (Liam Neeson) possa estar a traí-la, decide contratar uma jovem acompanhante de luxo (Amanda Seyfried), Chloe,  para seduzir o seu marido e comprovar, dessa maneira, as suas suspeitas.

Para começar, o filme começa por acertar, logo, na sua primeira cena, em que vemos Chloe a narrar o seu dia-a-dia e a explicar a importância que as palavras desempenham como técnicas de sedução dos seus clientes.

De seguida, somos brindados com outra excelente cena em que Julianne Moore explica a uma paciente (ela é médica) o que é um orgasmo. Apesar de á partida poder parecer uma simples cena sem grande significado, proponho que a abordem de uma outra maneira. A procura do prazer, muitas vezes inalcançável e dificil de atingir (tal como um orgasmo, principalmente nas mulheres, como diz a paciente de Catherine) e da satisfação sexual e, sobretudo, amorosa são temas centrais do filme. 

Passando para a relação de Catherine e David, está é uma típica relação que por força de diversas circunstâncias, que ficam subentendidas, esfriou. Estes têm um filho, com o qual têm dificuldades em comunicar, situação que atormenta Catherine, pois verifica que o seu filho cresceu demasiado depressa e que nada sabe sobre ele. Apesar de interessante, esta relação entre mãe/filho é abordada de forma um pouco superficial uma vez que não faz parte do mote principal do filme.. esse é, sem dúvida, a relação entre a médica e Chloe.

Quando somos apresentados a essa inigmática jovem, verificamos que apesar da sua profissão, esta ainda possui uma certa ingenuidade. Essa faceta da sua personagem vai sendo aos poucos desvendada por Catherine e por nós, espectadores.
Contudo, uma das ideias vendidas pelo filme é que as aparências enganam. Será tudo um jogo de Chloe?

Por  grande parte do filme, a forma como é desenvolvida a aproximação entre estas duas personagens prende e excita o espectador. O uso das palavras é fundamental nesse processo (tal como Chloe refere no início). Os encontros entre Chloe e David são narrados pela jovem, em encontros que marca com Catherine. São nessas conversas entre as duas mulheres que o filme atinge a sua maior grandeza.

Porém, no terceiro acto do filme, aquilo que até ali era um subtil e interessante drama psicológico, torna-se num filme á la "Atracção Fatal". É como se de súbito se tivesse decidido torná-lo num filme mais comercial, mais ao gosto do público não acostumado a ver filmes independentes. Isto não é tanto culpa do realizador, mas sim dos argumentistas, pois faltou-lhes coragem em levar o filme por outros caminhos, diferentes daqueles que levou.

Se muito desta última parte é incoerente, não atinge níveis de mediocridade pois o talentoso elenco consegue segurar as pontas do filme. Julianne Moore apresenta a mesma qualidade de sempre; a grande surpresa é Amanda Seyfried que nos deslumbra com todas as nuances da sua personagem. O facto de que ao acabarmos de visualizar o filme, ficarmos a desejar conhecer mais de Chloe, deve-se muito ao excelente trabalho deste talento em ascenção.

A representar o lado masculino, Liam Neeson surge um pouco apagado e a sua personagem é pouco explorada. Isto deveu-se, ao facto de a sua mulher, a também actriz Natasha Richardson, ter falecido enquanto o actor filmava este filme. Assim, o seu papel teve de ser encurtado.

O Preço da Traição é, como já referi, realizado pelo egípcio Atom Egoyan. Ele faz um trabalho interessante, especialmente devido ao seu cuidado com os detalhes e as tonalidades das cores.

No geral, temos um filme que se mantém bastante interessante durante 3/4 da sua duração acabando por descambar na última parte. Para terminar, deixo aqui um excerto da crítica que Roger Ebert fez deste filme: « (...) O Preço da Traição começa como um hipnótica história de suspeita e ciúme e prossegue através da paixão e do erotismo até ao seu inesperado final ».

P.S/ Como podem ver, muitos gostaram do rumo que o filme tomou no final.

Nota final: 3,5/ 5



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