quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Crítica ao filme "A Origem"


Breve introdução

2010 tem sido um ano fraco para os filmes de Verão - blockbusters -

Só para demonstrar o qual fraco tem sido este ano, deixo aqui um exemplo que mostra (apenas) os filmes de Verão que tiveram sucesso entre 2008 e 2010:

Em 2008 tivemos filmes como Homem de Ferro, O Panda do Kung Fu, Procurado, Wall-E, Mamma Mia, Hellboy II, Viagem ao Centro da Terra, Tempestade Tropical e The Dark Knight: O Cavaleiro das Trevas =  grandes êxitos quer junto do público quer da crítica.

Em 2009 tivemos filmes como Monstros Vs. Aliens, Star Trek, A Ressaca, A Proposta, Harry Potter e o Príncipe Misterioso, Up, Bruno e És o Maior, Meu! = grandes êxitos junto da crítica e êxitos algo modestos junto do público.

Em 2010 tivemos filmes como Homem de Ferro II, Saga Twilight: Eclipse, Toy Story 3 e A Origem = grandes êxitos junto do público e (excepto Toy Story 3, A Origem) êxitos modestos junto da crítica.

Tendo em conta estes dados verificamos o seguinte: 2008 foi um grande ano para os blockbusters;  2009 continuou a ser um bom ano, no entanto já se começou a notar um decair de qualidade dos filmes e 2010 tem sido um mau ano, com apenas quatro filmes a alcançarem sucesso junto da crítica e do público, em oposição aos 9 e aos 8 filmes de 2008 e 2009, respectivamente.

Claro que nestes três anos houve maus filmes, contudo o número de maus filmes em 2010 comparativamente ao número de maus filmes nos anos anteriores é muito grande.

Crítica do filme
Esta pequena introdução serviu para mostrar o quão importante este filme é perante a situação que se verifica actualmente na indústria cinematográfica. 
Os produtores de Hollywood têm cada vez mais medo de apostar em novas ideias, em novos projectos. Dos 32 blockbusters que estrearam este ano, apenas 11, dos quais A Origem, são ideias originais (8 dos quais são comédias).

Sinopse:
Dom Cobb é um talentoso ladrão, o melhor na arte da extracção: ele rouba segredos e ideias às pessoas directamente das profundezas das suas mentes, durante os sonhos – estado em que a nossa mente está mais vulnerável. A rara habilidade de Cobb fez dele uma das pessoas mais influentes neste novo mundo de espionagem empresarial, mas também fez dele um fugitivo internacional e custou-lhe tudo o que já amara. Mas agora foi-lhe oferecida uma oportunidade para se redimir. Um último trabalho pode devolver-lhe a sua antiga vida. Será que vai conseguir completar esta missão?

Tanto tem sido dito acerca deste filme que é cada vez mais difícil falar do mesmo sem cair no lugar comum.
O tema sonhos vs. realidade não é novidade, sendo que já foi retratado noutros filmes. O que diferencia este filme de todos os outros é a maneira como Christopher Nolan nos apresenta a trama. O recreio deste realizador é a mente humana. Nunca o mundo dos sonhos foi transposto para o cinema de forma tão real, tão palpável, tão fascinante. Nós, o espectador, somos convidados a visitar e apreciar este intricado mundo dos sonhos.

A técnica usada por Nolan para nos contar este "puzzle" da mente humana é importante, contudo as ideias, as regras propostas pelo realizador acerca do mundo dos sonhos são mais.
Muito do sucesso deste filme reside no facto de por trás das acções das personagens existir uma razão, um porquê. Todas as personagens, no fundo, procuram a felicidade, e com esta a redenção. Quer seja o filho que procura ser amado pelo seu pai; ou a personagem de Leonardo DiCaprio que deseja estar ao lado dos seus filhos, vê-los crescer, educá-los, amá-los... Tudo isto cria um denso arco dramático.

Leonardo DiCaprio está cada vez melhor. O actor é muito bem sucedido a mostrar a dor e o sentimento de perda que assombra a sua personagem.
Marion Cottilard está maravilhosa. Esta actriz francesa é cada vez mais uma presença habitual no cinema americano. A sua interpretação é, sem dúvida, a melhor e a mais complexa do filme. Apesar de desempenhar o papel de mulher fatal (a relembrar-nos o cinema noir) apresenta-nos um grande registo dramático. A sua última cena é assombrosa: enquanto morre nos braços de Cobb uma lágrima escapa dos seus olhos e escorrega pela sua face.
Tom Hardy traz uma certa dose de humor e de charme ao filme.Cillian Murphy num registo bastante subtil, desempenha o papel do filho que procura a aceitação do seu pai.
A personagem de Ellen Page, a jovem arquitecta, consiste em desvendar o passado de Cobb e explicar ao espectador toda a teia labiríntica que é criada.
Apesar de todos estarem muito bem, alguns actores apresentam interpretações um pouco constrangidas, talvez devido à grande densidade do argumento.

Para além de ser um filme imensamente intenso, A Origem é também um filme de grande inteligência. Ambos os mundos são devidamente separados, mas ao mesmo tempo tudo aquilo que acontece no mundo real influencia o mundo dos sonhos, daí numa certa altura do filme a personagem de Joseph Gordon Levitt se envolver numa luta à prova da gravidade.

Christopher Nolan é um visionário. É engraçado notar que este filme possui características de todos os seus trabalhos anteriores. Os temas da mente humana que nos remetem para o filme Memento; o sentimento de perda e de dor que nos relembra outra das grandes obras deste realizador, The Prestige- O Terceiro Passo; o clima de Batman: Início e The Dark Knight, etc...

Este é sem dúvida o seu melhor filme até agora.

Depois de ver este filme é dificil aceitar que filmes como este sejam cada vez mais raros, filmes que deslumbram e desafiam o espectador.
Há muito tempo que não tinha uma experiência tão emocionante como a que tive ao ver esta obra prima
Gostaria que o filme fosse mais abstracto, no entanto, a ideia que o realizador tenta dar dos sonhos é que são tão reais que muitas das vezes são confundidos com a realidade.
Temos aqui um grande filme de acção, um grande drama intimista, um grande estudo do psicológico humano, uma obra revolucionária e um dos melhores filmes de sempre. 
Este Origem volta-nos a mostrar o porquê de amarmos e acreditarmos no cinema.

Nota final: 5/ 5

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